O levantamento é realizado e atualizado a cada dois anos por uma rede de monitoramento e vigilância ativa que avalia dados de mais de 226 mil crianças americanas, de 11 regiões do país. Para chegar aos resultados, a equipe extrai informações sobre o desenvolvimento dessas crianças nos registros de provedores de serviços de saúde e do sistema educacional da comunidade.
Segundo o relatório, a criança atendeu ao critério de definição de caso se no seu registro foi identificado:
1) uma avaliação com diagnóstico confirmado de TEA;
2) uma classificação de TEA por causa da necessidade de educação especial
3) uma classificação com base no CID (Classificação Internacional de Doenças) indicando TEA.
Ainda de acordo com o documento do CDC, a prevalência geral do transtorno foi de 27,6 por cada 1.000 crianças (uma em cada 36), sendo 3,8 vezes mais prevalente em meninos do que em meninas. A idade média do diagnóstico foi aos 49 meses (4 anos).
Para o órgão de saúde dos Estados Unidos, o que tem levado ao aumento de diagnósticos é o maior conhecimento do que é o TEA, maior acesso aos serviços, melhor formação dos profissionais de saúde e dos professores para identificar o transtorno.
“Com a maior divulgação dos casos e mais informação, pais, médicos e professores foram aprendendo a identificar os sinais mais precocemente. Não significa que temos mais crianças com autismo, o que acontece é que fomos aprendendo a diagnosticar”, diz o neurologista Erasmo Casella, do Hospital Israelita Albert Einstein e professor livre-docente da disciplina de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Casella ressalta também que nem sempre é fácil fazer um diagnóstico rápido e certeiro de TEA na infância justamente porque o transtorno envolve várias condições que afetam o desenvolvimento neurológico e tem diversas gradações. Ele é caracterizado por limitações de comunicação e interação social, nos relacionamentos, padrões de comportamento repetitivos, entre outros. Pode ser classificado como nível 1, 2 ou 3 (leve, moderado ou grave), conforme a necessidade de suporte do paciente, inclusive é isso que vai orientar o plano terapêutico individual.
“Aquela criança que fala logo, que fala bem, que não atrasa para bater palmas, muito provavelmente vai passar batido pelo pediatra, já que antigamente só eram diagnosticados aqueles autistas não verbais ou com deficiências muito graves. Além disso, é possível que alguns pacientes com autismo sejam diagnosticados com TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade] por serem considerados crianças agitadas”, diz Casella.
Segundo o neurologista, há muitos casos de sobreposição de diagnósticos – as crianças têm autismo e TDAH, o que pode confundir e dificultar ainda mais um diagnóstico correto na infância. “Com o passar dos anos, os critérios de diagnóstico foram sendo aprimorados e aperfeiçoados. Apenas de uns 15 anos para cá é que começaram a surgir os estudos mais completos e aprofundados sobre o assunto. Eu mesmo me formei em 1981 e não tive nenhuma aula sobre autismo. Hoje, a cada 40 dias dou uma aula sobre esse tema na universidade”, afirma.
Mesmo tendo sido oficialmente descrito pela primeira vez na década de 1940, somente em 2013 o autismo passou a ser oficialmente chamado de Transtorno do Espectro Autista e foi enquadrado na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde (OMS), graças a estudos que mostraram a existência de vários tipos de intensidade do transtorno. O dia 2 de abril é o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo e tem como objetivo chamar a atenção para a importância do tema.
O diagnóstico precoce, ainda na infância, é essencial para que a criança inicie o tratamento – uma terapia baseada na análise aplicada no comportamento, que vai desenvolver e estimular as habilidades da criança o mais cedo possível. “É preciso começar a estimular essa criança imediatamente porque esse tempo não é recuperável”, alerta Casella.
Diagnóstico na rede pública
Apesar de o diagnóstico do TEA ser cada vez mais comum, a principal dificuldade no Brasil é o acesso ao tratamento feito por equipes multiprofissionais em centros especializados, um problema que é ainda maior quando se trata da rede pública.
“A rede pública é limitada e não vence fazer esses atendimentos para suprir a demanda. Existe um ambulatório de autismo no Hospital das Clínicas, mas a maioria não tem acesso. Quando a criança recebe o diagnóstico e é encaminhada para o CAPS [Centro de Atenção Psicossocial], muitas vezes encontra equipes desfalcadas, sem médico, psicólogo, terapeuta ocupacional. Infelizmente, ainda é muito difícil receber o tratamento adequado”, lamenta o médico.
O TEA é um grande “guarda-chuva” e o diagnóstico é fechado após uma avaliação multidisciplinar. Mas, alguns sinais nas crianças devem chamar a atenção dos pais, entre eles:
•quando a criança não estabelece contato visual com a mãe;
•criança que não consegue olhar e apontar um objeto a uma certa distância;
•criança que não olha mesmo quando é chamada pelo nome;
•criança que começa a andar na ponta dos pés;
•fazer gestos repetitivos e balançar as mãos com frequência;
•gosta de enfileirar ou empilhar brinquedos;
•criança que fica nervosa com mudanças de rotina.
Fonte:https://revistagalileu.globo.com/saude/noticia/2023/04/diagnostico-de-autismo-aumenta-22percent-em-dois-anos-nos-eua.ghtml
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