PAIS: CONVÍVIO COM O FILHO TRAZ BENEFÍCIOS PARA AMBAS AS PARTES

  

O convívio, olho no olho, traz intimidade
O convívio, olho no olho, traz intimidade Pexels

Pais: convívio com o filho traz benefícios para ambas as partes

O que importa é a presença amorosa e constante dos cuidadores fundamentais, aqueles que nos dão o chão para caminhar


Por Daniel Becker

 



Em minha primeira coluna, escrevi sobre uma dimensão importante da infância: o seu espaço, a natureza.

Na segunda, quero discutir a dimensão do tempo. Num aspecto crucial para a saúde integral da criança: o tempo de convívio com sua família. E a interação com as figuras estruturantes de sua personalidade: pai e mãe. Ou mãe e padrasto, pai e avó, mãe e mãe, não importa a configuração. O que importa é a presença amorosa e constante dos cuidadores fundamentais, aqueles que nos dão o chão para caminhar.

A convivência amorosa é essencial para as crianças, e também para os pais. Vejamos por que.

Da parte da criança: o aconchego para acreditar que a vida é boa. O cuidado que nos protege e nos ensina, o afeto que mostra nosso valor, o amor que gera memórias e consolida nossa identidade. A segurança para explorar o mundo sabendo que sempre podemos voltar ao nosso porto seguro.

Da parte do adulto: a profunda intimidade criada pela convivência no dia a dia. O amor indizível que brota do cuidar, na saúde e na doença, cotidianamente. Cuidar de alguém que é um pedaço de nós. Alguém que traz tanta angústia e preocupação, e também tanta alegria, deslumbramento e esperança. A intimidade que nos permite conhecer profundamente aquela pessoinha e educá-la com segurança e intuição.

Nada pode substituir essa dádiva. Não há brinquedo, não há creche ultra-top integral ou escola bilíngue multisserviços premium, babá mágica ou equipe multidisciplinar com motorista e folguista que sequer chegue perto do valor de um dia de convívio, de uma hora juntos num parque, de uma refeição em família, de um jogo de tabuleiro, de se aconchegar no colo da mãe e do pai e adormecer em paz.

No entanto, em nossa “vida moderna”, convivemos cada vez menos com os filhos. Intermináveis horas de trabalho, longos percursos no trânsito, tarefas em casa, e o tempo vai se esvaindo. Pior: o pouco que resta dele passamos em grande parte no celular. E a convivência, em vez de olho no olho, vira canto de olho. Porque no centro está a telinha, na qual estamos todos viciados. Isso empobrece tremendamente esse vínculo essencial — a pista de decolagem para o pleno desenvolvimento da criança.

Conviver é o único caminho para fortalecer a intimidade, a base para uma relação parental saudável e plena. Por dois bons motivos.

Por um lado, conhecer nossos filhos profundamente permite a sensação de estar à vontade com eles, de se sentir “em casa”. Permite conhecer de olhos fechados o território dessa relação, onde o relacionamento flui de forma leve e prazerosa.

Por outro, ser íntimo dos filhos também é essencial para educar. Dar limites, por exemplo, pode gerar frustração e revolta numa criança. Sem intimidade, fico com medo da sua reação ou me irrito com facilidade —o que me predispõe a escolhas erradas: o autoritarismo, o castigo ou a permissividade excessiva.

Se conheço bem meu filho, posso compreender, respeitar, acolher, e orientar num momento difícil. Tenho discernimento para saber a hora de dar liberdade e a hora de restringir. Ganho confiança nas suas capacidades e posso oferecer a ele outro presente: a autonomia.

Além disso, repetimos muito o chavão “o exemplo é a melhor educação”. Mas como a criança pode se mirar em nossas atitudes, se ela nos vê meia hora por dia? Ou pior, se o exemplo dela é um youtuber?

A intimidade não surge por mágica nem precisa de técnicas especiais. Basta o convívio no cotidiano. O despertar com um sorriso, as conversas em torno da mesa ou no caminho da escola, a interação da brincadeira, a troca de olhares e sorrisos, uma história na hora de dormir.

Para isso não é preciso abandonar o trabalho ou renunciar ao autocuidado. Mas é necessário, sim, dar prioridade ao tempo com os filhos.

O retorno desse investimento, garanto, é plenamente compensatório - para ambas as partes.


Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/daniel-becker/post/2022/12/pais-convivio-com-o-filho-traz-beneficios-para-ambas-as-partes.ghtml

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