O médico Antonio Condino, do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, explica que aquela reação imunológica por trás da rinite é muito complexa e recruta diferentes tipos de células.
"Um dos glóbulos brancos que está envolvido nesse processo é o mastócito, que libera uma substância chamada histamina", exemplifica. A tal da histamina, aliás, é uma das responsáveis por sintomas como a coceira e a vermelhidão.
Outra célula de defesa envolvida é o basófilo, que libera substâncias químicas que contribuem no processo inflamatório.
Ou seja: não há um alvo único que, ao ser desligado ou inibido, vai evitar definitivamente a crise de espirros e a dificuldade de respirar.
Condino também ensina que a rinite é uma doença poligênica, que está relacionada com mutações em diversas partes do código genético humano.
"Existem algumas enfermidades imunológicas que são monogênicas, causadas por alterações em um único gene. Nesses casos, fica mais fácil pensar em terapias gênicas capazes de lidar com o problema", diz.
Com o avanço científico e tecnológico do momento, porém, não é possível "consertar" tantos genes por trás da rinite de uma só vez.
Além dos entraves técnicos, não podemos ignorar também como é difícil criar um novo medicamento. Para ter ideia, o processo de desenvolver um novo remédio demora 12 anos e envolve um investimento médio de 2,5 bilhões de dólares, Como se não bastasse tudo isso, 90% das moléculas avaliadas pelos farmacêuticos não passam nos testes clínicos e nem chegam às farmácias.
Ainda nessa seara, também devemos ter em mente que a rinite não costuma ser prioridade nos investimentos para as pesquisas, já que falamos de uma doença que não costuma levar a quadros graves ou com risco de morte.
Mas o fato de a cura da rinite alérgica ser algo praticamente utópico nos dias de hoje não significa que os pacientes estão largados ao léu.
Os tratamentos disponíveis, que avançaram significativamente nas últimas décadas, podem manter as crises sob controle na maioria das vezes, como você confere a seguir.
Após o diagnóstico, o primeiro passo fundamental para controlar as crises de rinite é fazer algumas modificações em casa.
"É preciso ventilar bem o quarto, fazer limpezas regulares, trocar lençóis uma vez por semana e evitar carpetes, tapetes, bichos de pelúcia e cortinas de pano", recomenda Silva.
Vale também colocar o travesseiro e o colchão no sol de vez em quando e lavar roupas, cobertores e edredons que estão guardados no armário por muito tempo antes de utilizá-los.
Todas essas atitudes têm um objetivo em comum: controlar o acúmulo das substâncias que causam alergia, como a poeira, os ácaros e os pelos de animais. Esse cuidado deve ser redobrado no quarto de dormir, já que passamos pelo menos um terço de nosso dia nesse ambiente.
Legenda da foto, Bichos de pelúcia acumulam poeira e ácaros, gatilhos importantes das crises de rinite
A faxina, claro, não se limita à casa: também é necessário lavar o nariz. "Fazer uma limpeza diária das narinas com soro fisiológico ajuda a eliminar impurezas e hidratar a mucosa, o que previne irritações", complementa a alergista.
Além do controle do ambiente, os médicos também costumam prescrever algumas medicações, a depender do grau da rinite e da frequência das crises.
"Para pacientes que só têm rinite alérgica na primavera, por exemplo, podemos indicar remédios para aliviar os sintomas somente nessa época do ano", conta Salmito.
Já para as situações em que a rinite é mais grave ou aparece em qualquer mês, não adianta apenas apagar o fogo. Nesses casos, os médicos tentam agir preventivamente.
"Nesses casos, os anti-inflamatórios da classe dos corticóides podem ajudar", cita o otorrino.
"A boa notícia é que essas drogas evoluíram muito nos últimos 20 anos e hoje temos opções aplicadas diretamente no nariz, que não são absorvidas pelo resto do corpo e provocam menos efeitos colaterais", completa.
Uma 'vacina' para a rinite? Uma terceira alternativa farmacológica para destravar a respiração envolve a imunoterapia.
Em suma, esse tratamento é feito ao longo de três a cinco anos e oferece ao paciente doses crescentes da substância que provoca a reação alérgica nele.
Se a pessoa tem um quadro de rinite causado por ácaros, por exemplo, os especialistas produzem injeções ou comprimidos com uma parcela mínima do agente que provoca o gatilho das crises. Essa quantidade vai aumentando passo a passo.
"O objetivo é modificar aos poucos a resposta imunológica, de tal modo que a pessoa perca aquela sensibilidade que tinha quando era exposta ao alérgeno", desvenda Silva. É como se o corpo se acostumasse aos poucos e não reagisse tão mal àquela substância.
Legenda da foto, Lavar o nariz com soro fisiológico diariamente é uma das principais atitudes para proteger a mucosa interna do nariz
A eficácia dessa opção, porém, varia de indivíduo para indivíduo. "Cerca de 30% dos pacientes têm uma resolução quase total do quadro que apresentam. Outros melhoram significativamente", calcula Salmito.
"A perspectiva é que essa técnica evolua bastante pelos próximos anos e aumente essa taxa de sucesso progressivamente", completa o especialista.
Outro ponto negativo da imunoterapia está na acessibilidade: no Brasil, ela só está disponível em clínicas privadas e não faz parte da cobertura dos planos de saúde.
No sistema público, só é possível encontrar alguns poucos serviços que oferecem a "vacina contra a rinite", ligadas a grupos de pesquisa e hospitais universitários.
O controle do ambiente, os antialérgicos, os anti-inflamatórios e a própria "vacina" podem até não representar uma cura. Mas ao menos eles trazem uma grande possibilidade de controlar a rinite alérgica — e evitar as penosas temporadas de nariz entupido.
Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/geral-61261469
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