4. Abandonar o convívio, a rotina e as atividades sociaisOutros sinais típicos de que o jovem está exagerando no tempo de telas é o abandono, parcial ou completo, de todas as atividades fora da internet, como as práticas esportivas, culturais e de lazer. Outro sintoma preocupante é a substituição do convívio com amigos, pais ou familiares pelos jogos de videogame ou a interação pelas redes sociais.
"Esbarramos mais uma vez na questão do limite: quando o uso do celular faz com que as crianças ou os adolescentes deixem de cumprir as funções básicas, como comer, dormir, tomar banho, preparar a lição de casa ou fazer atividade física, algo está errado", exemplifica Eisenstein.
Os especialistas dizem que a rotina e o estabelecimento de regras claras é fundamental nas primeiras décadas de vida e deve incluir aqueles que estão na primeira infância.
"Nesse contexto, os pais de crianças menores não podem usar o celular ou o tablet como uma 'bengala', para deixar a criança entretida enquanto eles fazem outras atividades", destaca Viola.
Muitas vezes, esse acesso ilimitado às telas numa idade tão tenra é o início de um processo que vai desembocar no uso abusivo de dispositivos eletrônicos pelos anos que virão.
5. Sofrer uma queda no rendimento das aulas O documento da SBP também pede que pais e tutores prestem atenção na "queda do rendimento, fracasso, abandono ou evasão escolar".
Observe, portanto, se a criança ou o adolescente está passando muitas horas na frente do computador ou do celular e, em paralelo, as notas e o comportamento em sala de aula sofreram alguma alteração.
Em alguns casos, é possível que exista uma conexão entre esses dois fenômenos.
Legenda da foto, O celular pode ser uma ferramenta de aprendizado ou prejudicar a educação de crianças e adolescentes
"E não podemos ignorar o fato de que as escolas e os educadores têm uma responsabilidade em toda essa discussão, ainda mais quando estamos numa pandemia, em que muitas atividades escolares precisaram acontecer à distância, por meio dos aplicativos de videochamada", contextualiza Eisenstein.
6. Estar envolvido em episódios de bullying É preciso ficar de olho neste tipo de discriminação no mundo físico e no digital — e tanto agressor quanto vítima precisam de cuidados.
"A criança mais velha e o adolescente podem ser alvos de cyberbullying e passar por um processo de 'cancelamento' de todo o círculo social", descreve Viola.
"Em alguns casos, fotos, vídeos e detalhes íntimos do alvo caem na rede, o que vai gerar muitas repercussões emocionais e psicológicas", alerta.
Machado lembra que o mundo digital pode propiciar um comportamento mais agressivo dos usuários. "Como você não vê a reação do outro, acaba se sentindo mais à vontade para compartilhar emoções primitivas, sem um freio crítico ou moral", raciocina o psiquiatra.
"Ou seja: há uma propensão em perpetuar e naturalizar comportamentos extremados nas redes", complementa.
A melhor ferramenta, garantem os especialistas, é a prevenção: pais e tutores precisam ficar atentos e orientar os mais jovens como se comportar nessas situações.
Quando o bullying escalou e já atingiu um nível mais grave, muitas vezes será necessário envolver os familiares de agressores e vítimas, representantes da escola e algum tipo de mediação feita por psicólogos ou outros profissionais que atuem nessa área.
Legenda da foto, Ficar longas horas sentado na frente de um computador afeta a postura e está relacionado a dores musculares e na cabeça
7. Desenvolver problemas no corpo e na mente O uso excessivo de celulares e outros dispositivos conectados à internet pode dar as caras em uma série de sintomas e doenças. A SBP lista alguns nas diretrizes publicadas nesses últimos anos:
Transtornos do sono, como insônia; Transtornos alimentares, como bulimia e anorexia; Sedentarismo; Obesidade; Dores de cabeça; Dores musculares relacionadas à postura; Irritabilidade, agressividade e condutas violentas; Ansiedade e depressão. Uma parcela desses incômodos está relacionada com o tempo prolongado de inatividade. Quem fica muitas horas sentado na frente de um computador, por exemplo, possui menos tempo para fazer exercícios físicos e pode sofrer com dores nas costas pela postura inadequada.
Outra parte dos sinais, porém, tem um fundo emocional e afetivo. "O acesso a conteúdos sobre emagrecimento e a busca de um corpo idealizado aumenta o risco de transtornos alimentares", cita Eisenstein.
Como resolver esses problemas? Considerando o fato de que os celulares são parte da rotina da vasta maioria das pessoas, será que é possível ter uma relação mais saudável com a tecnologia? E como identificar as situações em que o uso desses dispositivos ultrapassou os limites, especialmente na infância e na adolescência?
"A primeira intervenção é se desconectar aos poucos. De nada adianta castigar ou tirar o celular da criança ou do adolescente de forma brusca e definitiva", aponta Eisenstein.
"E, claro, esse ato de se desconectar da internet precisa envolver todos os integrantes da família, não apenas os jovens", destaca a pediatra.
Viola reforça a necessidade de estabelecer limites. "A criança e o adolescente precisam saber que podem entrar na internet por um determinado número de horas por dia."
Por fim, vale reforçar que existem formas de identificar e tratar os quadros de vício no uso de celular e outros dispositivos eletrônicos.
"Se o jovem apresenta dificuldades nos âmbitos social, profissional, educacional ou familiar, é necessário buscar a avaliação de um profissional de saúde", orienta Machado.
Para os casos em que há diagnóstico de um transtorno, como uma dependência de videogames, é possível intervir por meio da terapia cognitivo-comportamental, uma abordagem da psicologia que busca analisar, racionalizar e propor intervenções nos hábitos e nos pensamentos do paciente.
Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/geral-61001786
Comentários
Postar um comentário