Sobre o amor infinito que seus filhos pequenos sentem por você
Uma vez li uma frase, não me lembro onde, mas que nunca esqueci. Dizia que o maior amor do mundo não é dos pais pelos filhos, e sim o dos filhos, quando eles são pequenos, pelos pais. Não quero discutir aqui a veracidade desta afirmação, até porque nem vem ao caso ficar medindo quem tem o maior amor do mundo… Mas quem tem ou teve filhos pequenos com certeza já passou por várias situações em que as demonstrações de amor dos filhos pelos pais foram de arrebentar o coração.
Engraçado que no começo, logo depois de eu virar mãe, eu não percebia tanto isso. Acho que minha visão estava ofuscada com o amor que eu sentia por eles e era difícil notar qualquer outra coisa que não fosse o meu próprio peito explodindo. Mas ultimamente, no meio da nossa rotina ordinária, toda hora me dou conta dos pequenos e grandes gestos que demonstram o amor extraordinário que eles sentem por mim. E aí me dá uma “nostalgia antecipada”, pois sei que vou sentir falta disso quando eles crescerem. É claro que depois a gente continua amando nossos pais. Meu Deus, até hoje eu tenho a pachorra de chorar no aeroporto cada vez que me despeço do meu pai. Mas é outro amor, é um amor maduro, calejado pela vida. É diferente do amor puro, inocente e até meio cego que as crianças têm por nós.
Amar é querer estar junto? Pois nada faz meus filhos mais felizes do que eu passar tempo com eles. Não estou falando de passar tempo tipo piloto automático em função logística materna, mas de dedicar tempo mesmo. Abrir um livro, olhar as figuras, conversar sobre o que estamos vendo. Meu filho anda ultimamente para cima e para baixo com um livro de regras no trânsito (sinal vermelho, verde, faixa de pedestres etc.). Quase me dá pena ver o rostinho dele se iluminando quando ele percebe que vou de fato ler o livro com ele, que, sim, nós vamos conversar sobre o sinal vermelho. É como se o Gael tivesse ganhado na loteria. Aquele momento em que ele vai me mostrar que “aqui é que tem que passar, mamãe”, apontando para a faixa de pedestres, produz nele uma felicidade imensurável. Ele faz suas considerações sobre o trânsito, olha bem para o meu rosto para ver se eu compartilho da mesma opinião e inevitavelmente acaba dando uma encostadinha em mim só para garantir que está mesmo sentando no meu colo.
E se eles percebem que você precisa de ajuda? Faz dois dias meu celular dormiu numa poça de água criada por uma garrafa aberta na minha bolsa. Estava tudo tão encharcado que era óbvio que não havia mais futuro nem para o telefone nem para a bolsa. Só não fiquei muito louca da vida porque ele era velhinho e eu estava mesmo querendo trocá-lo nos próximos meses. Masminha filha, sem saber disso, ficou superpreocupada, como a mamãe vai viver sem esse objeto que ela ama tanto? Ela levou o celular para o quarto, ligou o ventilador e ficou lá um tempão, toalhas e cotonetes em punho, segurando o telefone na frente do ar, tentando salvar a aparelho. Quem faz isso por você? Só uma criança pequena. Faça uma besteira bem grande e corra para receber um abraço sincero de alguém que vai te acolher sem julgamentos até na hora em que você comete seus erros mais estúpidos.
Isso para não falar na admiração, a certeza de que ninguém no mundo é melhor do que nós. Dá até vontade de melhorar mesmo, evoluir para ver se a gente fica mais próximo dessa figura idealizada com que eles nos pintam com tanta inocência.
Todos os dias, várias vezes por dia, eles nos inundam com esse amor. O amor que um dia vai se transformar e vai deixar saudades. Tenho pedido a todos os meus santos que eu consiga me lembrar mais disso. Seja lá o que esteja acontecendo nas nossas vidas, eles estão sempre à nossa espera. Os olhinhos atentos nos observando, as mãozinhas gordinhas querendo nos tocar, a disposição infinita para conversar. Que a gente consiga equilibrar a logística do cotidiano, o trabalho, as preocupações com o futuro para não deixar de aproveitar o presente. Se o que importa de verdade na vida é o amor, então o momento que estamos vivendo agora – cheias de olheiras e descabeladas – é um dos principais capítulos da história da nossa existência.
*Camila Furtado mora na Alemanha e é mãe de Maria de 7 anos e Gael de 4. Este texto faz parte do livro "Tudo Sobre Minha Mãe - Um papo honesto e bem humorado sobre os primeiros anos da maternidade", disponível no Brasil e no exterior.
Fonte:http://tudosobreminhamae.com/blog/2016/2/3/filhos-pequenos-uma-inundao-de-amor-na-sua-vida
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