DESENHISTA AMERICANO CONHECIDO POR TRAÇO EM PRETO E BRANCO ESTREIA LITERATURA INFANTIL COM LIVRO IDEAL PARA LER COM AS CRIANÇAS

  Em “A cabana noturna”, um menino não consegue dormir porque imagina que existem criaturas à sua espreita

Desenhista americano conhecido por traço em PB estreia na literatura infantil com livro ideal para ler com as crianças

Landis Blair lança 'A cabana noturna' no Brasil

Por 

Télio Navega

 — Rio de Janeiro

27/02/2024 04h01  Atualizado há 3 dias

Miguel é um menino que não consegue dormir. Ele imagina estranhas criaturas à espreita dentro do armário ou rastejando debaixo da cama. E, para fugir, refugia-se sob as cobertas, onde, guiado por estrelas, descobre um novo mundo. Assim como Landis Blair quando era garoto. Em “A cabana noturna” (VR Editora), o quadrinista americano conta, em sua estreia na literatura infantil, a história que criou a partir de seu pavor pueril. Um livro perfeito para ler com os pequenos antes de eles dormirem.


— Quando eu era uma criança, deitado na cama, sem conseguir dormir, fazia tudo o que podia para tentar me distrair de meus medos, e frequentemente essa distração era proporcionada rastejando para dentro e para fora da barraca que criei com minhas cobertas, jogando todos os jogos imaginários que conseguisse inventar — conta Blair por e-mail. — Miguel, portanto, tornou-se uma extensão fácil de minhas próprias memórias, embora seja muito mais bem-sucedido no jogo da distração do que eu.

Além de quadrinista, Blair é conhecido por seu trabalho como ilustrador para publicações como New Yorker e New York Times. Uma de suas maiores dificuldades ao criar um livro para crianças foi a concisão no texto.

— Sou extremamente grato ao meu editor, que passou muito tempo comigo aperfeiçoando a escolha das palavras, muito depois de eu pensar que já havíamos resolvido todos os problemas — explica o desenhista de Waukegan, no estado de Illinois (EUA). — Este foi o primeiro livro que fiz com ilustrações coloridas. Certamente foi uma curva de aprendizado para mim. Tive que descartar uma série de tentativas de paleta de cores. Mesmo depois de colorir todas as páginas percebemos que as cores ainda estavam muito escuras e então tive que clarear todas antes de imprimir o livro.

Arte do livro de canções mórbidas, de Landis Blair, que sai este ano no Brasil, pela editora Darkside — Foto: Divulgação
Arte do livro de canções mórbidas, de Landis Blair, que sai este ano no Brasil, pela editora Darkside — Foto: Divulgação

Roteiro de um filme

A arte extremamente detalhista de Blair, com muitas hachuras, também pode ser vista no álbum em quadrinhos “Uma história real de crime & poesia” (Darkside), produzido com o escritor David L. Carlson, que, segundo o ilustrador, não apresentou a ele um roteiro de HQ, mas de um filme.

A referência é pertinente, afinal “Uma história real de crime & poesia”, que ganhou o Fauve d’Or no Festival de Angoulême, em 2020, trata da conturbada relação entre um pai e seu filho, e de como este mesmo pai escondeu o passado criminal. Na prisão, o personagem foi companheiro de cela da figura real de Nathan Leopold, que teria cometido, com seu parceiro, o crime perfeito: o rapto e assassinato de um adolescente. A história verídica do crime inspiraria Hitchcock a filmar “O festim diabólico” (1948).

— O que David Carlson me deu foi o roteiro de um filme — revela o quadrinista, de 40 anos.— Ele queria que eu lesse esse roteiro e o interpretasse como eu imaginava na forma de quadrinhos. Depois que fiz as thumbnails (miniaturas), David e eu criamos storyboards com todas elas e passamos alguns meses percorrendo a história repetidas vezes, adicionando, subtraindo e reorganizando páginas e texto.

Conhecido por seu trabalho como ilustrador de cenas em preto e branco, carregadas de hachuras, Landis Blair estreia na literatura infantil com um trabalho diferente — Foto: Divulgação
Conhecido por seu trabalho como ilustrador de cenas em preto e branco, carregadas de hachuras, Landis Blair estreia na literatura infantil com um trabalho diferente — Foto: Divulgação

Canções mórbidas

A mesma Darkside promete para este ano outro título de Blair, que não é HQ ou livro infantil, mas uma coletânea de canções de humor politicamente incorreto: “The envious siblings and other morbid nursery rhyme” (“Os irmãos invejosos e outras canções infantis mórbidas”).

— A canção do título foi inicialmente feita apenas por diversão, e a imprimi como um livreto — diz o desenhista. — Eu os vendia em convenções de quadrinho. Fiquei encantado ao descobrir que um editor estava interessado em que eu escrevesse um livro inteiro de canções infantis no mesmo estilo.

Em todos os trabalhos de Blair é possível notar o detalhismo de suas hachuras em traços curtos ou longos, horizontais ou verticais:

— Certamente é um processo demorado, mas uma vez que você entra no fluxo, avança de maneira bastante metódica. É quase como uma meditação onde posso desligar meu cérebro. Além disso, a hachura proporciona um alívio da ansiedade, pois sinto que posso esconder erros ou compensar minha fraca habilidade de desenho. A parte difícil para mim, porém, é fazer os desenhos a lápis, pois isso exige um nível de concentração que é cansativo. Penso no desenho a lápis como um esqueleto: se não for suficiente forte, tudo pode desmoronar.

‘A cabana noturna’

Autor: Landis Blair. Tradutor: Fabrício Valério. Editora: VR Editora. Páginas: 40. Preço: R$ 69,90.


Fonte:https://oglobo.globo.com/cultura/livros/noticia/2024/02/27/desenhista-americano-conhecido-por-traco-em-pb-estreia-na-literatura-infantil-com-livro-ideal-para-ler-com-as-criancas.ghtml

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